A presença de Candida nas fezes se correlaciona com os sintomas de “hipersensibilidade à Candida”, como dores de cabeça e cansaço? E o que acontece quando as pessoas são colocadas em uma dieta rica em açúcar?
Apesar de seu uso extensivo nas indústrias de fabricação de cerveja e panificação, apenas cerca de 5 por cento das pessoas saudáveis – 1 em 20 – têm anticorpos anti-levedura em sua corrente sanguínea, enquanto esse percentual é mais próximo de 60 ou 70 por cento em pessoas com doença de Crohn. A maioria das pessoas com Crohn tem anticorpos que reagem com leveduras comuns de padeiro, cervejeiro ou levedura nutricional, que são apenas formas diferentes de uma levedura conhecida como Saccharomyces cerevisiae (não é a famosa Candida albicans!).
Mas a levedura de padeiro/cervejeiro/nutricional nunca foi diretamente implicada na doença de Crohn. Talvez os anticorpos sejam uma reação direta a ela, ou talvez sejam uma reação a outra levedura completamente diferente e apenas reajam erroneamente com a levedura comum. De fato, descobriu-se que anticorpos contra Candida, um tipo totalmente diferente de levedura (a levedura que causa sapinhos e infecções vaginais por fungos), podem reagir com Saccharomyces. É possível que a levedura de padeiro/cervejeiro/nutricional fosse apenas uma inocente espectadora o tempo todo?
Por quase 30 anos, sabemos que anticorpos contra Saccharomyces estão ligados à doença de Crohn, mas em vez de pão, cerveja e levedura nutricional causarem a doença de Crohn, talvez a Candida esteja causando a doença de Crohn e os anticorpos. Ou talvez a Candida seja a inocente espectadora, e a exposição a leveduras de alimentos e bebidas seja a verdadeira culpada. Não temos como saber até testarmos: Remova a levedura da dieta de pacientes com Crohn e veja se eles melhoram. Se melhorarem, então a levedura era realmente a culpada. Se não melhorarem? Então talvez a Candida seja a verdadeira causa.
Antes de chegar ao estudo, deixe-me primeiro desmistificar alguns mitos sobre a Candida. A Candida é um constituinte normal da nossa flora intestinal. Se a Candida entrar na corrente sanguínea, no entanto, pode causar uma infecção que coloca a vida em risco. Mas é normal ter um pouco de Candida na boca, na área genital ou no cólon – o que é importante é a localização! Localização! Localização! É semelhante a ter bactérias nas fezes no cólon, o que é normal, mas bactérias no sangue ou em um ferimento seria ruim. Devido à capacidade da Candida de causar problemas no local errado ou em pessoas imunocomprometidas, surgiu a teoria da síndrome da Candida, ligando a presença de Candida a todos os tipos de problemas de saúde. Isso levou à “micofobia” – ou “fungofobia” – “se espalhando devido à interpretação falsa” de que a descoberta de Candida na boca ou nas fezes é evidência de algum tipo de infecção, em vez de ser apenas totalmente normal. (Se você acha que os autores desse artigo estavam sendo um pouco exagerados com seu discurso sobre fobias, é só pesquisar “Candida” e você verá a quantidade de informações falsas que circulam pela internet.)
Não só é normal ter Candida no seu intestino e área genital, aparentemente você não consegue se livrar dela mesmo se quisesse. Dê a pessoas poderosos medicamentos antifúngicos e você pode reduzir os níveis, mas eles voltam imediatamente assim que você para com os antifúngicos. E quanto ao conceito de que o açúcar alimenta a levedura, então você deveria fazer uma dieta com pouco açúcar? Não faz muito sentido, porque os açúcares são absorvidos lá no alto do intestino delgado e nem mesmo chegarem ao cólon, a menos que você seja intolerante à lactose. De fato, não parece haver nenhuma correlação entre os níveis de Candida e o consumo de açúcar! Você pode colocar as pessoas em uma dieta rica em açúcar adicionando 14 colheres de açúcar às suas dietas e ainda assim não ver um efeito. Claro, existem muitas razões baseadas na ciência para cortar o açúcar da sua dieta, mas a Candida não parece ser uma delas.
Não parece haver evidências científicas para a existência da chamada ‘síndrome da Candida‘. Mas essas são palavras que provocam emoções fortes! Poucas doenças geram tanta hostilidade entre a comunidade médica e um segmento do público leigo quanto a síndrome da candidíase crônica. A comunidade médica tem ignorado os supostos afetados como emocionalmente perturbados e também tem sido rotulados como simplesmente loucos. Claro, você não pode simplesmente sair chamando as pessoas de loucas. Diagnósticos psiquiátricos precisam ser apresentados com delicadeza… Alguns pacientes, por exemplo, preferem acreditar que sua doença mental é causada pela Candida, nesse caso, os médicos podem apenas afagá-los na cabeça para que tomem seus comprimidos ao invés de argumentar e querer discutir evidências científicas que o paciente não entende, nem está interessado em conhecer. No entanto, pacientes autodiagnosticados como tendo a “doença da candidíase crônica” raramente abandonarão sua doença – alguns até o ponto de tentar usar sua levedura como defesa por dirigir embriagado: Eu não estava bebendo, Excelência. Minha cândida estava apenas produzindo cerveja no meu intestino!
A síndrome da Candida é oficialmente ridicularizada pela Academia Americana de Alergia e Imunologia como “especulativa e não comprovada”, sem qualquer prova de que exista. A presunção de que “o onipresente Candida albicans [cândida para os íntimos] tenha algum efeito tóxico no sistema imunológico humano… carece de qualquer vestígio de evidência clínica ou prova científica.”
Se você quer evidências, argumentou uma resposta ao estudo, o que dizer dos milhões de cirurgias desnecessárias de amigdalectomia e todas as mastectomias radicais? Pelo menos colocar pessoas em dietas com pouco açúcar não as desfigura. Embora algumas terapias anti-Candida possam ser “potencialmente perigosas”, os medicamentos antifúngicos podem criar resistência e ter efeitos colaterais. A nistatina não é tão ruim, mas o cetoconazol pode danificar o fígado. E, de fato, há relatos de pessoas sendo tratadas por um diagnóstico falso e acabando em situações bastante graves por causa disso.
Portanto, é importante saber se a síndrome realmente existe. Voltando ao estudo… Os pesquisadores decidiram testar isso em um estudo super simples: Dê aos sujeitos tubos para colher amostras e pergunte a eles sobre seus sintomas – dores de cabeça, dores de estômago, cansaço e todos os outros sintomas típicos da síndrome da Candida. O resultado? Os pesquisadores não encontraram nenhuma relação entre se os sujeitos tinham Candida crescendo em seus intestinos ou não. Nenhum indício da síndrome da Candida pôde ser encontrado.
A síndrome da Candida parece ser mais uma doença fictícia imaginada por “gurus” do bem-estar que fazem dinheiro vendendo curas naturais, suplementos alimentares e produtos informativos como livros ensinando como “curar a candidíase sem remédios”.
O Dr. Michael Greger é médico, autor de diversos livros best-sellers do New York Times e palestrante internacionalmente reconhecido em nutrição, segurança alimentar e questões de saúde pública. Um membro fundador do American College of Lifestyle Medicine (Faculdade Americana de Medicina do Estilo de Vida), o Dr. Greger possui licença como clínico geral especializado em nutrição clínica. Ele é formado pela Escola de Agricultura da Universidade Cornell nos EUA e pela Escola de Medicina da Universidade Tufts, também nos EUA. Em 2017, o Dr. Greger foi homenageado com o Prêmio Trailblazer em Medicina do Estilo de Vida pela ACLM e tornou-se diplomata do American Board of Lifestyle Medicine (Conselho de Medicina do Estilo de Vida). Visite o site do Dr. Greger em: https://drgreger.org/